segunda-feira, 6 de maio de 2013

Clube Hipster Joyceniano

No dia 16 de Junho de 1904, doze amigos tiveram a felicidade de acompanhar a inspiradora aventura de Leopold Bloom.
A partir daí, reúnem-se em Dublin todos os anos, no mesmo dia, para relembrar e celebrar a elevação de uma pessoa banal a herói, que culmina em apoteose um dia banal.
Esta celebração atingiu o auge em 1910, pois conjugou Bloom e a sobrevivência à passagem do cometa Halley, facto que permitiu manter ébrios os doze amigos quase um mês inteiro.
Tudo se altera com a publicação de Ulysses, por James Joyce, em 1922. Sean, Ryan, Sean, Sean, Sean, Sean, Roisin, Erin, Ciara, Sean, Ryan e Sean não queriam acreditar no que acabavam de ler. Bem, nem todos. Sean, Ryan, Sean, Erin e Ciara ficaram apenas indignados por não perceberem o que estavam a ler. A incredulidade de Sean só chegou após o irmão Sean lhe ter explicado o que havia lido.
A questão prendia-se no tempo e no espaço: no tempo, pois o livro retratava apenas dezoito das vinte horas da epopeia de Bloom, descurando as duas horas finais que dão significado ao dia e aos dias que se sucedem; no espaço, pois Joyce como que coloca Bloom sozinho em Dublin, deixando vazio o espaço que ocuparam os doze amigos.
Pior: onde estava Joyce no 16 de Junho de 1904?
Acabava de sair de Dublin e era conhecido na altura por 'O Pirata de Zurique'. Ele não havia assistido a nada.
Os doze amigos reúnem-se para decidir o que fazer e escrevem um memorando em que acusam Joyce de ter transformado o que poderia ser o novo Novo Testamento numa nova Odisseia, completamente desfasada da realidade.
Joyce preferiu ser escritor em vez de evangelista.
O memorando não passou de uma nota de rodapé, cada vez mais ténue, com a emergência da nova celebração dedicada a um livro - Bloomsday.
Nas únicas palavras que Joyce dirigiu aos doze amigos, em forma de missiva, dizia que queria que o mundo girasse ao contrário através da sua escrita e pretendia que uma celebração religiosa se tornasse numa celebração pagã, ao contrário de todas as outras até então.
O desvario foi completo e os doze amigos deixaram o país. 
Voltamos a ouvir falar deles apenas em 27 de Março de 1997. Não de todos, pois Sean, Sean, Ryan, Sean e Ciara já haviam perecido. Os outros, com excepção de Sean, acabavam de ser noticiados como mortos. 
O mundo soube desta história pelo Larry King (CNN), numa entrevista a Sean, da qual passamos a destacar as principais passagens: 
Larry King (LK): O que sentiu quando ouviu esta notícia que acabámos de passar nesta peça?
Sean (Sean): Fico triste pela perda de amigos mas sobretudo pela sua vida em vão.
LK: Em vão, como assim?
Sean: Em vão porque acreditaram no verdadeiro, apenas escolheram o meio errado.
LK: Pode explicitar?
Sean explica a verdadeira história de Leopold Bloom.
Sean: Depois da publicação do infâme livro ainda duvidámos das nossas crenças, mas chegámos à conclusão que - por votação e consequente maioria de dois terços - estávamos correctos. Tínhamos esquecido um pequeno grande pormenor.
LK: Que é?
Sean: A passagem do cometa Halley. Todos nós sentimos que, nesse ano de 1910, a celebração foi diferente, para melhor, e que depois dessa entrou numa espécie de decadência. Como se o espírito de Bloom se afastasse de nós, se desvanecesse. E só conseguimos perceber isso em 1954.
LK: Que se passou em 54?
Sean: Todos os dublinenses viram o que se passou nas horas finais de Bloom, naquelas que o anti-bloomista Joyce se recusou tratar. Aquela luz pressagiava algo. E em 54 concluímos que Bloom seguiu com o cometa. Cabía-nos segui-lo. Mas em 1910 ainda não nos tínhamos apercebido.
LK: Foi aí que começaram a preparar-se para a passagem de Halley em 1985. Por que não seguiram nesse ano?
Sean: Acontece que a Roisin era crente em Maradona e achou que, no ano seguinte, ele iria humilhar os imperialistas dos ingleses, o que veio a acontecer. Bloom no céu, Maradona e Burruchaga na terra. Valeu o adiamento.
LK: Então, mas a próxima passagem de Halley só ocorreria em 28 de Julho de 2061. O que passou pela vossa cabeça?
Sean: Eu sei. Em 79, Sean conheceu Marshal Applewhite, que lhe garantiu que se podia chegar a Bloom não só por Halley mas também por Hale-Bopp. Ele defendia que a rede de cometas funciona como as redes de transportes, com paragens comuns. Dessa forma, podíamos adiar 1985 para 1997, que era quando passava Hale-Bopp.
LK: Então foi por isso que foram encontrados ontem?
Sean: Sim, pobres coitados. Conhecem a verdade mas apanham o cometa errado. Nunca vão conhecer Bloom.
LK: O Sean, então, deixou de acreditar. É isso?
Sean: Não, de todo. Acredito é que só pelo Halley se chega a Bloom.
LK: Mas em 2061 terá 181 anos. Correcto?
Sean: Sim, tranquilo. Ando de bicicleta diariamente, evito os fritos e tomo um sumo de mangostão todos os dias. Em 2061, lá estarei.



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