quarta-feira, 8 de maio de 2013

O escritor que se esqueceu de escrever III

(continuação da continuação - parte 2 aqui)

Ante a possibilidade de ser questionado acerca dos seus livros, que não escreveu e de que apenas tinha o esboço mental inicial, Bruno refugiou-se no desconforto do seu lar.
Foi em clausura que foi sabendo do crescimento do seu corpus bibliográfico, da atribuição de prémios e do volume de vendas. Eis o que não escreveu, segundo o que os jornais foram destacando:
  • A demanda em marcha-atrás (2014), romance
Livro de estreia.
Uma história que tem como pano de fundo a guerra colonial, uma vez que o protagonista Emídio Sá tem problemas identitários por apenas ter nascido em 1975 e nunca ter participado na supracitada guerra.
Contou com quatro edições em território nacional e foi traduzido para cinco línguas: castelhano, francês, suaíli, mirandês da Rua Direita e mirandês de arrabaldes.
Laureado com o Prémio LeYa, sobre o qual o júri Pepetela disse: "É um livro." Esta é uma frase sintomática e, como se sabe, altamente intelectual, desde que dita em voz alta e com sotaque crioulo.
  • Quando cheguei eram duas horas antes (2015), romance
Ao segundo livro chega a afirmação de Bruno como escritor.
Emiliano Salas, filho de republicanos espanhóis, mortos durante o cerco de Toledo em 1936, decide ser ele próprio revolucionário, sob inspiração de Guevara e do peyote. Depois de falhar a participação na revolução cubana de 1959 por falta de visto, foi combatente nos levantamentos militares da Argentina, Chile, Nicarágua e Panamá. Emiliano tinha a particularidade de chegar cedo às revoluções e aproveitava esse tempo para conhecer a gastronomia local.
Ideologicamente frustado pelo resultado das revoluções em que participou, sentia-se, pelo contrário, gastronomicamente preenchido. É então que abandona o comunisno e adere ao 'charquicanismo'.
O sabor do guisado chileno leva-o a tornar-se escritor de guias gastronómicos de países ditatoriais. O seu maior sucesso foi Adie-se a Revolução Que Estou a Fazer a Digestão.
Contou com sete edições em território nacional e uma nas Berlengas, sendo traduzido para oito línguas: castelhano, francês, surinamês, quíchua, catalão, coreano, língua dos P's e português adaptado a ciciosos.
Segundo lugar no Prémio Portugal Telecom, ficando atrás do escritor brasileiro Vasco Prazeiroso (descendente da tribo Kambeba), para o qual já havia perdido no ano anterior o Prémio José Saramago.
  • Variações em Fá Sustenido do Verbo Fornicar (2017), contos
Após dois anos sem publicar, surge o primeiro livro que contém seis contos. Destaque-se o conto que dá título ao livro, pois causou enorme polémica. Diga-se que a controvérsia apenas surgiu em 2025, quando Bruno revelou, numa das poucas saídas de casa que se lhe conhecem, o verdadeiro teor do conto. Aconteceu a meio de um fado vadio, em que informa que se as pessoas unissem todos os e's das palavras compreendidas entre as páginas 34 e 35 obteriam um desenho que revelava a silhueta do escritor Vasco Prazeiroso a ser sodomizado por um búfalo americano.
Contou com duas edições antes de 2025 e treze após essa data. Não foi traduzido para qualquer língua, apenas adoptado em forma de folhetim nas escolas básicas do Estado americano do Texas, pois o desenho citado ilustrava para os texanos aquilo que os colonos fizeram à etnia de Vasco Prazeiroso.
Recebeu a chave da cidade de El Paso, por serviços prestados ao Estado do Texas, na categoria Primeira Metáfora Compreendida e Assimilada Sem Ter Que Sacar do Revólver, numa cerimónia que culminou com oitocentas rajadas de metralhadora e apenas cinco mortos.


(continua a continuar aqui)

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