quinta-feira, 9 de maio de 2013

O escritor que se esqueceu de escrever IV

(continuação da continuação da continuação - parte 3 aqui)

  • Capadócia Vista do Subsolo (2018), literatura de viagens
Com receio que descubram o que contém nas páginas do livro anterior, Bruno aceita uma encomenda da revista Actual, suplemento do jornal Expresso, para escrever crónicas sobre o Peru, a potência emergente da América Latina, após a descoberta do poder curativo do cuspe de lamas.
Acompanhado do fotógrafo Manuel Araújo, depressa se apercebe que está a ver o Peru mas com a cabeça na Turquia. Decide escreve sobre a Turquia, desde o Peru. Um livro que começa em Arequipa, depressa se transfere para Diyarbakir. No tema mais quente, encontramos a refutação da teoria de Nuno Rogeiro acerca da condição curda, desde logo porque o comentador televisivo opina sentado e, como sublinha Bruno, só se pode ter ideias precisas sobre curdos quando se está de pé.
O livro conta com duas edições, uma de texto e outra ilustrada com fotografias, tendo sido a última totalmente devolvida pelos leitores, pois pensaram que o livro estaria danificado - a imagem de Machu Pichu estava lado a lado com um texto sobre Izmir, entre outros exemplos semelhantes.
O livro foi traduzido para turco, castelhano, quíchua e aimará, sendo um best-seller tanto na Turquia como no Peru. Nestes países sucederam-se várias edições, todas para queimadas públicas: na Turquia, pela defesa de um estado independente curdo por parte do autor; no Peru, por adultério nacional, isto é, por não se admitir que as pessoas que vão ao Peru possam estar a pensar noutros países. Esteve para ser traduzido para inglês, mas o tradutor teve um colapso nervoso logo na tradução do título: Peru ou Turkey, eis a questão.
  • Crónicas em Apneia (2019), crónicas 
Livro que compila as crónicas publicadas na revista Actual e que, segundo revelam as nossas fontes, o autor foi obrigado legalmente a fazê-lo sem auferir vencimento, como forma de ressarcir o jornal, pelo ataque às suas instalações por um grupo de radicais turcos.
Nenhuma das crónicas contém qualquer teor político, sendo a tónica comum as temáticas ligadas a escritores e seus vícios. Podemos aqui encontrar textos como: Hemingway Era Um Duro Mas Tomava Ulcerim Antes do Jantar; O Batom de Capote; Nabokov Tingia as Asas das Borboletas com Cores Ocres; Não Fui Eu: Escrita Directa de Fernando Pessoa. 
  • O Verdugo Não Quer Ser Porteiro (2021), teatro
Peça que esteve em cena no Teatro Nacional D. Maria II, entre 25 de Junho e 16 de Julho de 2023.
Consiste num diálogo de impropérios entre dois vizinhos, ambos mudos, que se insultam em linguagem gestual através da parede que divide as suas casas. O público é convidado a seguir a peça por um libreto, que contém os diálogos em braille.
O autor pediu a reserva das filas A e C, par e ímpar, do 1º balcão, para a FPAS (Federação Portuguesa das Associações de Surdos). Verificou-se que foram estas as filas que permitiram uma melhor compreensão para o resto do público: sempre que se riam, contagiavam a plateia e os camarotes, e parte do 2º balcão.

(continua a continuar a continuação aqui)

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