sexta-feira, 7 de junho de 2013

Granta

A propósito desse acontecimento que é o lançamento da revista Granta na língua de Camões, apraz fazer a primeira crítica, que incide sobre a última entrada da lavra de valter hugo mãe.


Agora, vou ler a revista.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Conspiração Anacrónica

Ideia para livro best-seller:
- Falar de Jesus: não do estabelecido mas, basicamente, inventar
- Misturar história e esoterismo
- Falar de Salazar
- Mencionar em epígrafe que todos os factos históricos mencionados no livro são verdadeiros. Nota mental: não há factos no livro, apenas suposições (eheheh!)

Sinopse:
  • Prefácio
Onde se adverte que o que se vai tratar é do desconhecido, porém, altamente verosímil.
Dizer que nos propomos tratar da vida de Jesus entre os 13 e os 33 anos, aludindo espirituosamente (até com algum humor) a que teríamos o fim da discórdia e um modelo a seguir, se soubessemos da vida de Jesus como adolescente. E como sabemos os problemas que a adolescência comporta, teríamos também o fim das aparições televisivas de Eduardo Sá.
Por outro lado, provamos desde logo a divindade de Jesus, para não criar muitos atritos, mencionando uma profecia que se cumpriu: o que acontece após a crucificação de Jesus? Volta para casa do pai. E o que é acontece no séc. XXI? É só trintões a viver em casa dos pais. Profecia cumprida.
  • Desenvolvimento :
No início do livro, Jesus tem 14 anos e aprende a profissão do pai adoptivo. Na carpintaria, nem Jesus nem José passam dias tranquilos. Desde que Jesus nasceu, José passou a ser alvo de chacota pelos seus colegas:
- Ó Zé, ontem nasceu-me o segundo filho. Não veio de nenhum anjo, veio só de cegonha desde Telaviv!
- Ó Zé, com este vento, achas que devo fechar as janelas todas? Com estas brisas, ainda se me engravida a mulher!
- Ó Zé, estou aqui a imaginar coisas bem boas com a minha namorada. Será que quando chegar junto dela já estará enjoada?
Já Jesus, como qualquer aprendiz de carpintaria, era tratado pela alcunha apropriada à sua condição:
- Ó Carpintelho, passa-me aí a grosa.
- Ó Carpintelho, mandas cada farpa!
- Ó Carpintelho, enquanto messias não devias prever a merda que estás a fazer com essa cadeira?
No Outono de 14 depois Dele (não será durante Ele?), houve uma praga de louva-a-Deus (ou seria milagre?) que comeu as nogueiras todas de Nazaré. A escassez de matéria-prima produziu uma escassez de emprego na carpintaria.
Custava muito a José ver os dias a passar pelo filho sem que ele movesse uma palha. Nem na escola ingressou:
- Ó paizinho, eu prometo que hei-de ir para a escola, mas tenho tempo para isso. A eternidade não são dois dias.
Na realidade, Jesus sabia o que gostaria de ser:
- Quero ser ilusionista! Vou chamar-me: Jesus do Mato.
E passava os dias sem mexer uma palha aos olhos do pai, porém a formar-se nesta que via ser a sua vocação. Quantas vezes José não chegou a casa e viu o bidé transformado numa terrina de porcelana, a ovelha num cachecol de seda ou o pão em gomas em forma de javali. Se irritava o pai, o contrário acontecia com a mãe, que o incentivava:
- Ó querido, que bom! Fico muito feliz que queiras ser... como é que é? Ilusionista? Isso mesmo: ilusionista. Olha lá, não te importas de transformar aqui o teu tio Gabriel em naperon, só durante duas horas, que o teu pai está a chegar?
Tudo corria mais ou menos num clima de paz armada até ao dia em que José pegou na caixa de ferramentas. Lembrou-se que tinha que reparar o telhado de um burro que, entretanto, se havia transformado num albergue para pombas, quando viu que as ferramentas mais não eram do que um buquê de dálias. Perdeu a cabeça. Não bastava já a sua masculinidade ser diariamente posta em causa pelos colegas de trabalho, quanto mais ter as ferramentas de 'homem' transmutadas num artigo feminino.
Bastava de ilusionismo. José lembrou-se do stock parado daquelas cadeiras com caruncho, dos tempos da praga de louva-a-Deus, e propôs que Jesus se tornasse vendedor ambulante daquele material danificado. Com uma condição:
- Tens que vender longe da Galileia, não vá alguém conhecer-nos.
Jesus abalou. Afastou-se da Galileia. Mas afastou-se não só espacial como também temporalmente. A ubiquidade permite aos seres divinos mandar espaço e tempo à bardamerda. E ao deus Chronos também, esse pagão herege.
Desse modo, encontramos Jesus no Estoril, em 1968, a bater à porta do Forte de Santo António:
- Quem é?
- Minha cara senhora, sou Jesus e desejaria falar-lhe de algo muito importante.
- Jesus?
- Sim, abra por favor.
-  Faz favor!
- Permite-me que lhe pergunte como se chama a amável senhora?
- Maria. Maria de Jesus.
- Oh, que amabilidade! Não precisa de se entregar logo dessa maneira.
- Diga?!
- Deixe estar. Vim para lhe falar de algo, que sei de fonte segura que lhe faz falta.
- A salvação?
- Mais ou menos. Mas pode ser! A salvação para dias cansativos. O repouso que salva. Que diz?
- Sim, salve-me.
- Pois bem. Aqui tem esta magnífica cadeira de nogueira. Proveniente da terra santa.
- Mas a salvação faz-se... pela cadeira?
- Exacto. Vai ver que, depois de um daqueles dias de trabalho de ufa-ufa, vai sentar-se e pensar: Ai, meu Deus! Era mesmo disto que estava a precisar.
- Hum, pode ser. Vou levar para o Toninho, que ele tem um trabalho muito cansativo.
Mais um negócio bem sucedido. Jesus ainda ouviu Maria de Jesus a gritar já dentro de casa:
- Toninho! Toninho! Onde andas? Ah, estás aqui! Outra vez? António de Oliveira Salazar, quantas vezes te disse que não adianta mostrares o crucifixo aos comunas! Pára lá com isso e anda ver a cadeirinha que te comprei. Pára! Primeiro vês a cadeira, depois dou-te maminha.
  • Conclusão:
Quando esteve no desemprego, Jesus utilizava como varinha de ilusionista um salazar da cozinha da mãe. Na altura, chamava-se herodes mas toda a gente dizia que tinha cara de Salazar.
Por que razão se incompatibilizam NOVO Testamento e Estado NOVO?
A rejeição de Salazar começou na interdição do manuseio do salazar?
Haveria ciúme por Maria de Jesus não ser efectivamente 'de Jesus', e ver Jesus a morte de Salazar como uma libertação do amor?

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Retalho de autobiografia

Porque o Javali não se coibe de partilhar momentos mais íntimos da sua vida.
Deixo-vos uma recordação do fim-de-semana passado, que foi vivido no pinhal de Leiria (o ideal seria em savana mas este país há-de ser sempre atrasado, que nem savanas possui).

Poesia vulgar e extremamente est

Há quem escreva decassílabo heróico. Esteban Adonis (1986-2044) escrevia decímetro vulgar.
A criação deste estilo único, que implicou uma vida inteira dedicada à lavra de versos confinados em dez precisos centímentros, estará relacionada com meras casualidades: espacial e ingénua.
Esteban começou a escrever poesia aos 15 anos em blocos de post-its 10x15. Foi nesta altura que sentiu que a escrita o inebriava e os poemas como que lhe saíam em transe. Quando terminava um poema, reparava que o fim não ocorria sobre o post-it mas as palavras finais ficavam sobre a superfície em que escrevia. Esteban apenas guardava os post-its. Mais tarde, encontrámos isso mesmo na exposição "Estebanismo: espacio corto y eterno", que esteve no Museo de Arte Contemporáneo em La Paz, entre Março e Junho de 2039. Aqui pudemos contemplar os primeiros fins de rascunho numa toalha rendilhada de sua avó, numa toalha de papel do restaurante "Las Cucarachas" e numa mesa Läck branca.
Quando começou a mostrar os seus primeiros post-its aos amigos, o alento que recebeu foi imediato. Ruiz, Abel e Sergio leram os versos e entreolharam-se estupefactos. Nenhum deles havia percebido a poesia do amigo. Como eram alunos medianos, pensaram que o problema era deles e que aquilo devia ser altamente intelectual. Ademais, sabendo do feitio especial de Esteban e de ser ele o único proprietário duma bola de futebol do bairro, fez com que o congratulassem de forma efusiva e incentivassem a sua publicação.
Da vasta obra de Esteban, relevamos aquela que poderá ser considerada a sua obra-prima: Alice. Trata-se de uma recriação vulgar do livro Eneida. Se na obra clássica de Virgílio, assistimos à fundação da cidade de Roma por Eneias após uma fuga, com Tróia a arder como wallpaper, Esteban
conta-nos como Alice foge de Fornos de Algodres, abusada sentimentalmente pelo marido, para singrar no exílio como Madame.
Alice casa com Emídio. Ela: educada para desempenhar o papel de fada do lar. Ele: pastor e hermeneuta vitivinícola. Sentiu-se abusada logo na primeira refeição em conjunto, quando Emídio se ofereceu para fazer a salada enquanto ela terminava o cabrito. Alice não estava preparada para aquela intrusão. O que começou com uma salada, depressa escalou para um esparguete à bolonhesa e para um bacalhau com broa. Alice sentiu que não aguentava mais quando lhe foi proposto que esperasse na sala a ver televisão, enquanto ele terminava o peru recheado. E a mesa já estava posta! Apesar do cheiro agradável que emanava da cozinha, Alice partiu para longe, sem malas, sem dinheiro, apenas com dois rissóis de caranguejo que Emídio havia deixado na mesa como entrada.
Vendas Novas foi o destino e aí decidiu que construiria de raiz uma casa, onde fosse ela a protagonista e onde as pessoas dependessem dela para comer. Sentindo-se uma pessoa nova, fundou o restaurante "As mamãs tratam de ti", sem grande sucesso. Quando estava para fechar portas, chegou uma avalanche de pessoas, maioritariamente do sexo masculino, a dizer que queriam consumir. Curiosamente, foi mais ou menos ao mesmo tempo que o néon do til no nome do restaurante começou a falhar.
Vejamos esta passagem, uma das mais importantes, em que o restaurante se vai transformando em prostíbulo e Alice em Madame Alice:

"Que quereis daqui meu bom h
Não vedes vós que clientes não
E que a comida escasseia como
E que nem gás tenho para cozi
E quem são esses que trazeis a
Vimos o Vosso sinal Madame c
Reluzia para o céu e para o asf
Mas o céu e o asfalto não ilumi
Acendeu, sim, a fogueira interi
E a chama arde aqui no meu to
Comida escasseia pensais vós?
Mas vejo aqui nacos do Paraís
E gás não precisais para assar
Pois cozinho com o fogo que tr
Nem ajuda para descacar a fru
A que vos referis, pensais de al
Esperai que vaca tenho no con
Não precisais que essa aí me p
E comigo é sempre fast-food q
E cheios estão, vazios se irão."

Esteban Adonis falece em 2 de Maio de 2044, num quarto de hospital da cidade que o viu nascer, vítima de insufiência de vida.
Jaz no cemitério da Revolución de La Paz, em cuja pedra tumular podemos encontrar o epitáfio:

"A vida é isto: a tua contemplaçã(o da morte)
 Podiam ter avisado que as tinha (descaídas.)"