segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Édipo Rei num complexo médico

Relatório de um psicanalista acerca do paciente E.

"À terceira consulta do paciente E. tive uma sensação de arrebatamento. As suas palavras fecundaram o meu pensamento e, após uma breve estadia nos sanitários para alívio sexual, senti a gestação de uma nova ciência.
»Liguei imediatamente à minha mãe para lhe contar a boa nova, ao que ela respondeu:
»- Vai-te foder!
»Assim fiz, e em boa hora, pois as ideias começaram a fluir como um jorro.
»Eis a história do paciente E., nas suas palavras:
»Doutor, estou em crer que estou finalmente em condições para lhe contar o sonho que tem assolado os meus dias.
»Como já mencionei, os meus pais tinham uma vida sexual extremamente activa e faziam-se ouvir em todas as divisões da casa.
»Cresci com esses sons no meu pensamento, acompanhados por uma espécie de repulsa que me revolve as entranhas, sempre que viajo para esses momentos.
»O meu sonho é do mesmo cariz... Sim, de cariz sexual. Pensava que já havia compreendido. O que sucede é que no sonho sou eu que estou no acto e... sim, no acto sexual! Estava eu a dizer que, enquanto estou no imbuído no coito - está bem assim? - , estou ao mesmo tempo no corredor, como se no imediato fosse o adulto e a criança que ouve os pais. No momento em que penso que estou perante os meus progenitores, levanto o lençol e reparo que sou eu que estou a ter relações sexuais com a minha mãe. E... 
»Aonde vai, senhor doutor? Doutor? Ainda não acabou a nossa hora!"

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