segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Holocausto de surdos


Tenho a firme convicção de que o que se diz no telejornal devia ser gesticulado de forma totalmente diferente, pela senhora do rectângulo inferior direito.
Não se trata de um menosprezo para quem padece de surdez. Aliás, trata-se de privilegiar quem tem a audição ausente. Tendo em conta o teor triste das notícias, propunha a sua subversão em linguagem gestual para alegre.

Por exemplo, José Rodrigues dos Santos anunciava:
...continua o conflito em Gaza...
...ardeu todo o pinhal em redor de Figueiró dos Vinhos...
...subiram os impostos...
...jovem de 13 anos dispara e mata 80 colegas na cantina de um liceu em Palm Springs...
E a senhora do rectangulozinho gesticulava:
...terminou o conflito em Gaza para sempre, com os líderes palestiniano e israelita a jurarem sem figas a paz eterna...
...clonou-se D. Dinis e este mandou plantar um pinhal em Figueiró dos Vinhos com pinheiros anti-inflamáveis...
...aboliram-se os impostos...
...jovem de 13 anos dispara e mata a Celine Dion...

Já imaginaram a alegria destas pessoas na rua, termos finalmente alguns portugueses felizes em território português. É claro que todos os outros de cinco sentidos continuariam:
- ...ah, aquele Pissos Coelho, era pôr uma bomba...

Atenção! Não fui eu que lhe chamei 'Pissos', foi um senhor no comboio. Aliás, até tenho dúvidas que 'Pissos' seja com dois s's; eu normalmente escrevo com c de cedilha, mas aquele senhor tinha uma rudeza que parecia não conhecer as cedilhas. E acho, até, pouco criativo. Devemos tratar os nossos governantes pelos nomes e, se quisermos, chamar-lhes algo mais, porque não recuperar a tradição dos cognomes? Assim como estudamos os reis de Portugal - os bons, os mais ou menos e os medíocres -, também devemos estudar os nossos primeiros-ministros - os medíocres, os maus e os péssimos: Mário Soares, o Verborreias; Cavaco Silva, o Múmia; Pedro Santana Lopes, o Desejado II; Pedro Passos Coelho, o Agente Imobiliário (ou o Pissos, para quem preferir).

Mas a culpa não é de Passos Coelho. Não é! A responsabilidade é de quem o elege. As pessoas esquecem-se da nossa história, olvidam que as histórias dos países nos ensinam muito. Sobretudo, as histórias infantis.

Quem nos mandou confiar num homem chamado Pedro? Não conhecemos todos a história do Pedro e o Lobo? "Ai, fujam, que vem lá o lobo!" E nunca vinha. O que é que era este Pedro? Um mentiroso. E o que nos fez o Pedro governante? "Portugueses, nunca aumentarei o impostos"; "Se votarem no PS, vem lá o FMI (para ser lido como o próprio diz: «femí»)". Este é outro!

Já o anterior, o agora recluso 44, devia ter-nos inspirado cuidados. José é o protagonista daquela história de ficção em que faz o papel de corno. Conhecem? É aquela em que a mulher chega ao pé dele e anuncia:
- José, estou grávida.
- Mas como, Maria? Nós nunca...
- Ai, foi um anjo...
Pobre coitado. Trocado por uma entidade que nem pénis tem. O que nos diz a sabedoria popular acerca do corno? É o último a saber. Ora, o nosso José governante também foi o último a saber inglês técnico, que os jornalistas possuem aquela coisa da liberdade de imprensa e que governar um país não significa governar-se.

Poderia continuar, falar do durão que virou choninhas e fugiu com o rabinho entre as pernas para debaixo das saias da mãe alemã. Mas não o faço.
Para a próxima, quando escolherem o primeiro-ministro, atentem nos seus nomes. Elejam um Amílcar, um Simeão ou mesmo um Bóbi, tudo nomes que inspiram confiança e nunca fizeram mal a ninguém.

Escolhem um Pedro e é vê-lo a ser insultado em tudo o que é sítio. O senhor do comboio a chamar-lhe "Pissos" e, no cúmulo da irritação, olha para o lado e vê um surdo sorridente. Pergunta-lhe por que razão se está a rir, ele não responde, o senhor ainda fica mais irado, pensa que ele está a gozá-lo ou, pior, que é simpatizante do primeiro-ministro, e dá-lhe uma tareia.
Pensando bem, isto é plausível que aconteça noutros transportes públicos, salas de espera e cafés. É melhor deixar as notícias como estão, ou podemos vir a causar um holocausto de surdos às mãos de reformados e combatentes do Ultramar.

Quero deixar bem claro que sou contra os holocaustos em geral. Na eventualidade da sobrevivência da Terra depender de um holocausto, surdos poderia ser uma opção plausível. Não digo que seria a minha primeira escolha, até porque faz-me mais confusão os gagos. Ainda assim, é uma boa hipótese, tendo em conta que eu não sou.

E já que estamos no campo das hipóteses, vejamos os prós e os contras da eliminação de pessoas que padeçam de surdez:
Contra: Não devemos eliminar porque são óptimos ouvintes em conversas como as da minha tia, que recita o seu historial médico de cor como se fosse um canto d' Os Lusíadas, a meias com interlúdios maiores do que a IX sinfonia de Beethoven.
Prós: São pessoas que inspiram pouca confiança pois, numa conversa séria, nunca nos conseguem olhar olhos nos olhos.

Como é que me meti nisto? Eu nem sei o que é isso dos holocaustos.
A culpa é do José Rodrigues dos Santos! Só nos dá notícias más e uma pessoa vê-se na obrigação de salvar o mundo!     

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