sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Cacei uma vez e acabei caçado


Coisas que me causam comichão só curáveis no departamento de micologia #963:

Caça

Em 2014, o Ministério do Ambiente sul-africano identificou a morte de 1020 rinocerontes, às mãos de caçadores furtivos.
Li esta notícia no site da TSF e gostava de citar esta passagem: "A caça furtiva atingiu um novo número negro na África do Sul."  Eu não sou grande fã do politicamente correcto mas, adoptar a expressão "número negro" como uma coisa má na África do Sul, era de pensar duas vezes quando se quer utilizar metáforas. No fundo, é como ouvir de um pedófilo que "o melhor do mundo são as crianças". É verdade, mas mete nojo.
 
A caça, como a tourada, o zumba e as "Tardes da Júlia", não tem razão de ser. É participar num jogo em que há intervenientes que não sabem que estão a jogar. E quando reparam, é tarde de mais.

Já cacei. Tinha 8 anos. Experimentei uma vez. Odiei e nunca mais pratiquei.
Vivia em Esgueira e a única fauna que conhecia resumia-se a cães, gatos, sapos e à D. Amália, que parecia um cachalote. O Paulo e o Migas bateram-me à porta e disseram-me: "Anda, vamos à caça." Os dois eram mais do que amigos - eram os meus ídolos: já tinham pêlos púbicos, emprestavam-me filmes (em VHS) com moças desnudadas e roubavam cigarros aos pais. Os maiores! Pediram ainda para levar uma caixa de fósforos vazia. Fiquei em pulgas que, aliás, era outro animal que conhecia bem; e piolhos; e chatos, mas só de ouvir a minha mãe falar.

Saímos de casa e fomos para um relvado que havia atrás do prédio. Eles disseram-me para pousar a caixa de fósforos no chão, olharam-me nos olhos e disseram que, depois daquela caça, seria um tipo fixe como eles. Apenas tinha que me baixar, olhar para a caixa e gritar:

- Saltem gambozinos, saltem!

Os ditos gambozinos saltariam que nem doidos para o recipiente. Porém, enquanto não enchesse, o Paulo e o Migas davam apoio moral, isto é, malhavam fortemente na minha pessoa, sob a forma de cachaços.

Escusado será dizer que ainda hoje não sei o que são gambozinos, nem quero saber. No entanto, não me importava de mandar os caçadores furtivos para uma reserva natural de rinocerontes, disfarçados de couves, à caça de gambozinos.

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