sexta-feira, 6 de março de 2015

Confia no teu cocó


Gostava um dia de pisar um palco das conferências TED para passar uma mensagem simples: 
Confia no teu cocó
autoconhecimento está umbilicalmente ligado ao comportamento do teu intestino favorito.
Como?

1. No teu dia-a-dia

Não sei como é com vocês, mas eu sou um relógio suíço no que toca a libertação em Valadares. Aliás, gosto até de pensar que o tipo que inventou o primeiro relógio mecânico, estabeleceu as 24 horas com base na sua ida sincronizada à latrina. Depois, terá dito: "Isto é que é obrar!"
De facto, o tempo que passo no trono de cerâmica permite-me colocar as ideias em ordem, relaxar e, porque não, admitir que é um tempo de qualidade. Por outro lado, quando andamos preocupados ficamos desregulados e nem com Ativia aquilo lá vai. E não tem lógica, por duas razões: a primeira, porque esquecemos que a ida ao WC permite perspectivar os nossos conflitos interiores; a segunda, porque dizemos coisas sem sentido, do género, "Estou a ter um dia de merda" que, a meu ver, só pode ser positivo e não só para actores de teatro. Não conheço ninguém que, após uma ida bem sucedida à latrina, não venha satisfeito.
Isto é, passem tempo de qualidade na casa de banho. As ideias não têm cheiro. 

2. No teu trabalho

Há quem meça a saúde empresarial através da bolsa e PSI's 20's e tem que se usar fato e parecer atarefado. E ter um curso na área, disseram-me que este também era importante. Porém, em caso de encerramento da empresa, qual a frase mais comum que se ouve? "Olha, a empresa X foi por água abaixo." Cá está, a empresa anda pelos mesmos meandros do cocó. Tendo em conta as recentes aparições de empresários nas comissões da Assembleia, não é difícil imaginar cocó na sua gestão, mas essa não é a questão.

Há 2 anos, despedi-me de uma empresa no sector livreiro por salários em atraso e adiei a minha decisão até que, duas semanas antes de o fazer, algo me abriu os olhos - sim, foi o meu cocó. E ocorreu em dois episódios.

O primeiro foi no Parque Nascente, num Sábado de manhã, depois de sair da Primark. Ao dirigir-me para o parque de estacionamento, o meu intestino transmitiu-me que tinha que fazer uma paragem intermédia. Mas este aviso, releve-se, foi tardio. E assim que aconteceu, o meu cérebro disse-me: "Corre ou borras-te todo." Eu não sei se conhecem o Parque Nascente e a quantidade de pessoas que pululam a uma Sábado mas, acima de qualquer vergonha, um adulto de 35 anos desatou a correu pelo centro comercial adentro à procura do WC mais próximo. Estamos a falar de uma corrida de um indivíduo em má forma, com um esgar de dor na face, peito para fora, rabo apertadinho e espichado para trás, como se isso resolvesse alguma coisa. A violência do movimento intestinal e o desespero apoderaram-se de mim, ao ponto daquele percurso parecer uma meia maratona. Cheguei à porta do WC e relaxei um pouco. Qual não é o meu espanto quando reparo que está um balde a impedir a entrada e uma sinalética a informar que devemos dirigir-nos a outra casa de banho.
Amigos, o que se passou a seguir foi pouco digno, mas não deixa de ser a pura das verdades. Naquele momento, eu senti aquilo que um idoso deve sentir quando passa a dizer o que quer, quando sai à rua com uma camisa com nódoas de azeite ou quando pinga as calças com xixi. No fundo, quando se está a cagar. E foi isso que eu senti. Não me importava fazer nas calças; não interessava se, a seguir ia para o carro, para junto da mulher e das filhas, com sólidos nos boxers. Não sei que força me moveu, mas voltei a correr e cheguei ao piso superior e, finalmente, sentei-me na sanita. Não vou descrever o que se passou a seguir, apenas dizer que de sólido não tinha nada e, provavelmente, tinha outras pessoas a viver dentro de mim, tal a quantidade de...
O que é que isto tem a ver com trabalho? Na 2ª feira seguinte, transferiram-me um ordenado, algo que não acontecia há meses e, quando ocorria, era em tranches. Fiquei desconfiado.

O segundo episódio decorreu no Sábado seguinte, em casa. Tínhamos acabado de tomar o pequeno-almoço e íamos começar a preparar-nos para sair de casa. Mal terminei o café, o meu intestino informou-me que tinha planos diferentes para nós: não íamos sair de casa. Ainda pouco refeito da semana anterior, obedeci e fui imediatamente para a sanita.
Se decidi contar o que a seguir se passou é apenas para o vosso bem, para a vossa aprendizagem, para a vossa educação. Tenham isso em conta.
Instalado na sanita, a vontade crescia mas nada saía. O que estava alojado dentro de mim pedia um portão de descarga e o que tinha para oferecer era uma pequena janela. À medida que ia fazendo força, as dores aumentavam, deixava-o sair um pouco para logo depois contrair e fazê-lo reentrar. Estava a tornar-se insuportável. Tinhas suores frios e muitas dores. Decidi pedir ajuda à minha mulher. Teve que ser! Já a tinha poupado de repensar a nossa relação na semana anterior, não consegui evitá-lo uma semana depois. 
Trouxe uma caixa de clísteres, pequenas bisnagas de lubrificação e afins. No papel dizia para utilizar uma ou duas, no máximo. Utilizei três! E o bicho não se desfez. Mas saiu. E quando saiu, posso dizer-vos, era grotesco. Feio e enorme! Para terem uma noção, era tão feio que o monstro do filme Alien, quando comparado com aquele, parecia o Brad Pitt. E era de um tamanho tal, que só foi por água abaixo depois de oito descargas e depois de ter utilizado a varinha mágica para passá-lo.
O que é que isto tem a ver com trabalho? Na 2ª feira, quando cheguei ao trabalho, a loja onde trabalhava estava fechada.

Moral da história: o cocó tentou avisar-me a empresa deu mais do que tinha e imediatamente fechou a porta, não sem antes deixar um grande buraco.

3. Na tua relação

Quantas vezes vos perguntam como foi a vossa primeira vez? Não a vossa pessoal, mas a vossa enquanto casal. Querem que vos diga uma coisa? Isso não interessa nada. Sim, o sexo é extremamente importante, mas é também a primeira coisa que acontece entre um casal. No entanto, o que faz um casal, o que cimenta a relação é a cumplicidade; é o nível de intimidade que decidem construir.

E é aqui que chegamos ao ponto fulcral. Quando existem problemas numa relação e os casais decidem procurar ajuda externa, a primeira pergunta que o terapeuta deveria fazer esta esta:
"Já introduziram o peido na vossa relação?"
Isto, sim, dá estrutura. E saúde. Eu andei preso meses antes de ter coragem para o fazer em frente à minha mulher, sempre a socorrer-me da despensa, a ficar envergonhado sempre que ouvia: "Ó Bruno, temos que limpar a fundo a despensa. Tem cá um cheiro!" E a partir do momento em que acontece, a relação liberta-se em todos os sentidos. 

É claro que não estou a falar de partilhar momentos enquanto eu estou na casa de banho. Eu sei que as mulheres não se importam, mas fica aqui um vídeo explicativo para o caso masculino.

Bem haja.


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