sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Um belo dia

Foi um belo dia passado na Segurança Social. Para quem não sabe o que é, trata-se de um museu com múmias bem conservadas. Emitem sons e tudo, tecnologia do camandro!
Como se trata de uma visita que é menina para durar várias semanas, vamos observando que as pessoas assumem papeis próprios no local. Ora vejam:

#1 - O JOGADOR
Conseguem identificá-lo com um bufar de aborrecimento e com ar de desgraçadinho. Normalmente, desafia a plateia para jogar com as seguintes palavras: "Que sorte a minha! Já cá estou há duas horas e, quando cheguei, tinha mais de 30 pessoas à minha frente." Alguém da plateia sente urgência em jogar e responde: "E eu? Estou aqui vai para 3 horas e, quando cheguei, estavam mais de 40... sim, ouviu bem, 40 pessoas à minha frente!" E ficam a medir números de aborrecimento, naquilo a que comummente se designa por "Medir filas". Perde quem for atendido primeiro. No fundo, perdem os 2, porque o outro continua à espera.

#2 - O VOLUNTÁRIO
O senhor tirou a manhã do trabalho na oficina para tratar de uns assuntos, mas não consegue deixar de trabalhar. Permanece em pé o tempo todo, vai colocando idosos nos bancos livres tipo-tetris, pergunta a toda a gente ao que vem, para ajudar a tirar a senha correcta, manda piadas e estabelece diálogos por associações longínquas, do género: "A senhora não é mulher daquele senhor que costuma estar em tal sítio e que já trabalhou ali?"

#3 - O CARLOS ALEXANDRE LOBOTOMIZADO
O bufo do bufar. Ou a bufa do bufar. É aquele senhor ou senhora que controlam aproximações ilegais às mesas de atendimento, vomitando em voz alta o que o prevaricador está a executar: "Pois, eu também é para informações e estou aqui, à espera da minha vez!" É o juiz que julga as pessoas pelas senhas que retiram: "Gostava de saber por que é que este é prioritário. P'rá próxima também trago um bebé!"

#4 - O BEBÉ TAKE-AWAY
Falamos daquela senhora que chega às 11 da manhã e tem duas cidades e meia à sua frente na fila. Faz um telefonema e a mãe traz-lhe o bebé, só para poder tirar a senha de prioritário. Eu percebo: os deficientes têm que passar à frente.

#5 - A REPETENTE
Também pode ser confundida com a Masoquista. É aquela senhora que convive na sala de espera e que consegue debitar 137 maleitas de que padece em 30 segundos, ao mesmo tempo que se lembra dos últimos 2 anos de toilettes da Cristina Ferreira. Quando chega à vez dela, falta-lhe sempre um papel ou uma assinatura ou um documento e terá que voltar no dia seguinte. Fica por saber se é por martírio ou por prazer.

#6 - O DR. JEKILL
O trombudo da fila de espera. É o senhor que cospe palavras, de queixo inferior proeminente, lábios projectados para a frente, com um olhar de permanente desconfiança. Curiosamente, transforma-se, qual patinho feio, num belo cisne ao ser atendido. Invariavelmente, está para renovar/pedir o RSI.

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