terça-feira, 5 de maio de 2015

Uma aventura na Segurança Social

Aconteceu hoje. Dirigi-me à Segurança Social às 15h30. Ia com a minha filha de 5 anos. Entrei e já não podia tirar senha. Como tinha um papel que tinha que ser apresentado hoje, perguntei a uma das... das... eu vou chamar "funcionária", para não ferir susceptibilidades.

- Desculpe, como é que eu faço isto? É que nem as senhas de prioridade estão a funcionar.
- Ai, agora não sei não. Volte amanhã.
- Pois, mas tem mesmo que ser hoje. Como diz no papel.

E então, ela olha para mim pela primeira vez e decreta:
- Então, vai ter que esperar até ao fim e depois vemos o que podemos fazer.
Agradeci mentalmente a simpatia, por ela vir a fazer algo que estava dentro do seu profissionalismo e remeter para o fim algo que ela e eu sabíamos que era prioritário. Ainda perguntei:
- A que horas fecham?
- Às 5.

Até aqui, tudo bem. Elas saem às 5 e, obviamente, não vão deixar tirar senhas até essa hora, senão sairiam lá para a meia-noite. Mas resolvi contar as pessoas que estavam à espera, com senha na mão: 20. Eram 2 a atender. E soube também que são os serviços centrais que bloqueiam as senhas consoante a afluência.

No entanto, vamos lá pensar: 2 pessoas para atender 20, dá 10 a cada uma; faltava 90 minutos para o fecho, o que significa que dava 9 minutos por atendimento. 9! Muito provavelmente, ainda usam Internet Explorer. E disquetes! Mas nem tive tempo para continuar a minha indignação porque uma pessoa da fila, do alto da sua sentença sem julgamento, achou que eu estava a passar à frente de todos. E disse isto:

- Para a próxima, também arranjo um bebé e trago, só para ir à frente de todos.

Qual foi o mal aqui? É que eu ouvi. E o pior? É que eu respondi. E pior ainda: fui pouco Charlie, porque respondi verbalmente e não como realmente me apetecia. E conseguiu ser ainda muito pior: porque eu falei em português e há mentes embebidas em "Tardes da Júlia" que não processam, digamos, palavras. Fiquei um pouco curioso porque, como disse, a minha filha tem 5 anos e sai ao pai no que concerne a tamanho. No fundo, gostava de ver o tamanho dos bebés da rua deste ser.
Respondi:

- Minha senhora, a maior parte dos problemas das pessoas decorre da sua incapacidade de estarem caladas.

Pumba! Ninguém percebeu. Mas senti-me livre. Já conheceram alguém que citasse Pascal numa repartição da Segurança Social?
Melhor ainda: pelo vistos, ela estava lá há horas e quando chegou a sua vez, não tinha todos os papeis necessários. Tinha que voltar no dia seguinte. E eu não, porque fui atendido.

‪#‎BitchSlapping‬ ‪#‎JustiçaPoética‬ ‪#‎Pascal‬ ‪#‎SS‬ ‪#‎JeSuisMaisOuMenosCharlie‬

segunda-feira, 4 de maio de 2015

10 perguntas existenciais

Vamos lá fazer daquelas coisas para mostrar que estamos todos ligados e que nos identificamos uns com os outros. Vou revelar-vos 10 perguntas que inquietam a minha existência e que aposto que vocês fazem o mesmo todos os dias. Identifiquem amigos e deixem o vosso gosto, tal vai ser o meu poder de observação e domínio da condição humana.

#1 - Em termos metafísicos, de onde vem o ranho?

#2 - Por que razão a comida gourmet não tem também uma saída gourmet do nosso corpo? Sushi e pescada cozida não merecem partilhar o mesmo intestino.

#3 - Para quando um Centro de Criogenação de Peças de Roupas, se a moda é cíclica? É avanço científico e um PPM (Plano Poupança de Moda)

#4 - E que tal inserir uma cadeira de "Tipologia de temperaturas de galões" no curso de empregado de mesa, uma vez que desconhecem o termo 'morno'?

#5 - Se estamos no século XXI, faz sentido continuar a chamar 'carta' de condução quando toda a gente usa email?

#6 - Quando é que o Vaticano divulga os ficheiros onde revela o que aconteceu à Primeira-Feira?

#7 - Para quando a classificação de "esquizofrenia verbal" para pessoas que dizem "ouvistes" e só têm à sua frente um indivíduo?

#8 - Por que razão não há saídas profissionais para pessoas que querem ser golfinhos?

#9 - É de mim ou é ridículo a palavra 'travesti' ser do género masculino?

#10 - Por que razão há padarias que não têm pão de Deus? Não devia estar em todo o lado? E quem diz padarias, diz charcutarias.

domingo, 3 de maio de 2015

JEOVAX e a venda de santuários


A 10 dias de se celebrar os 98 anos das aparições de Fátima, convirá desenterrar a história de outra Lúcia e do escândalo que abalou a Igreja, ao ponto de ter ditado o fim da monarquia em Portugal.

A pequena Lúcia sonhava subir aos palcos de revista à portuguesa, desde que foi em excursão a Lisboa para assistir à peça "D. Gordo e as perdizes", uma sátira à condição anafada do rei D. Carlos e à sua falta de tacto para governar o país.

É também nesta altura que a Jeovax começa a actuar em Portugal. Trata-se de uma congregação secreta do Vaticano, sob tutela directa do papa e que é especializada em imóveis. Mais especificamente, em santuários.

Vivia-se uma época pós-ultimato inglês e as tendências republicanas ganhavam cada vez mais força. Numa aliança secreta entre D. Carlos e o papa Leão XIII, a Jeovax chegou a Portugal para criar um santuário que unisse os portugueses em torno da Igreja e da monarquia devota.

O local escolhido foi Açude de Agolada, nas imediações de Coruche, onde viviam seis famílias. Escusado será dizer que uma delas era a família de Lúcia. A Jeovax abordou Lúcia e perguntou-lhe se queria ser actriz logo a partir daquele momento. Lúcia aceitou e entrou na teia, que hoje é bem conhecida.

A Jeovax tinha um modus operandi  que consistia em 10 passos:
#1 - Escolher um local semideserto com boa profusão de luz e som. Neste caso, a zona selvagem e despovoada de Açude.
#2 - Contratar uma actriz - Lúcia.
#3 - A actriz engole 666 pirilampos.
#4 - Por meio de chupas ou rebuçados, fazem 2 ou 3 crianças aparecerem no local inóspito. Esta prática levou a que se dissesse às crianças, praticamente até aos anos 50 do século passado: "Não aceites doces da Jeovax". E só mais tarde se substituiu 'Jeovax' por 'estranhos'.
#5 - A actriz surge no topo de uma árvore a crianças, reluzente, com uma mensagem que diz ser de Deus.
#6 - Deixar o buzz marketing surtir efeito. O boca a boca é enfatizado pelo pároco local.
#7 - Organizar excursões ao local, com nova aparição da actriz, agora mais reluzente, causando cegueira colectiva.
#8 - As terras, até então propriedade privada, passam para as mãos da JEOVAX, por uso capião da fé.
#9 - Investimento em infraestruturas para valorização do terreno.
#10 -  Possibilidade de franchising.

As aparições de Açude de Agolada foram presenciadas apenas por republicanos que, como bons cépticos, desconfiaram. Estávamos no período pascal de 1902 e a suspeição foi confirmada numa peça de teatro na escola primária de Coruche. As filhas de dois dos republicanos presentes nas aparições faziam parte do elenco da peça "Morra o nazareno, viva a República", encenada por Afonso Costa, que contava, igualmente, com Lúcia, no papel de Maria. Lúcia andava adoentada pela ingestão abusiva de pirilampos e, nessa noite, teve uma representação intermitente. Neste caso, foi intermitente de forma literal: o corpo dela brilhava como as luzinhas da árvore de Natal. Os dois republicanos juntaram dois mais dois e esperaram Lúcia no final da peça. Ela confessou.

A Jeovax desapareceu do país e D. Carlos foi assassinado em 1908. Em 1910, a República foi implantada no país e a primeira medida do governo provisório de Teófilo Braga foi o extermínio dos pirilampos do nosso país. Entre 1910 e 1917, não houve qualquer avistamento de pirilampos na nossa paisagem. Até que aconteceu Fátima.